domingo, 1 de agosto de 2010

Ninguém lembra do 'seu' Geraldo

Quando mudei para a nova casa, uma das coisas que mais eu observava era a entrada da rua.

Era a parte mais bonita da rua, e talvéz a única.

Naquele local tinha um emaranhado de árvores imponentes e grandes, como que, propositalmente, formavam um arco misto de marrom e verde.

Era realmente uma entrada esplendorosa para o nada. Pelo menos era o que eu via. Na primeira casa do lado esquerdo vivia um casal de idosos, em frente, nunca ví ninguém nos sete anos que morei naquele local. Ao lado da casa misteriosa, chegando à esquina,era sempre um rodizio, um dia um casal com filhos, no outro adolescentes imaturos e mais tarde mudariam também alguns traficantes.

E em frente a casa rodizio tinha uma selva!

Sem exageiro algum, pelo menos não para um menino de 10 anos.

Era a casa do 'Geraldão', ou 'seu' Geraldo, como eu preferia chamá-lo.

Seu Geraldo era um homem simples, vivia com muito pouco, quase nada. Se alimentava apenas dos retos que os vizinhos lhe dava, e geralmente era uma comida que nem sei se o seu cachorro comia. Mas ele não reclamava, afinal quase sempre que comia ele estava sob o efeito da cachaca que ele comprava com o dinheiro das latinhas que ele catava nos raros momentos que saia de casa.

Seu Geraldo era um típico proletário brasileiro. Um cidadão miserável vivendo a beira da morte por falta de saúde, comida, e até mesmo atencão. Todo mundo fingia que não via o seu Geraldo na porta da sua casa em estado deplorável, raquítico,com quase todo tipo de doenca crônica.

Não sei que fim levou seu Geraldo. A última notícia que tive dele era que ele estava muito mal, com pressão alta e diabetes.

Hoje que tenho alguma conciência, tenho uma ideia melhor do que o seu Geraldo passava,afinal hoje trabalho e sei o quanto vale cada centavo de real e posso dizer que, o que faziam com o seu Geraldo era algo desumano e não se deve fazer isso com ninguém. Olhar para um ser humano e fingir que ele não está lá, e algo horripilante, e infelizmente, em uma conta rápida, podemos dizer que a cada 20 pessoas que vemos,uma é um seu Geraldo, que não vemos por conta da distracão com a paisagem, ou mesmo por pura ignorância.

E é isso que somos, gandes ignorantes.

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